Relato de uma brasileira na Austrália
Por Elen C
Meus amigos brasileiros escutam com espanto quando eu conto como é a vida na Austrália. Não por causa dos coalas, praias paradisíacas e aranhas, mas por causa do COVID (em especial, como a pandemia foi controlada e eu nem preciso usar máscaras quando vou a bares, restaurantes e mercados).
O fato de a Austrália ser uma ilha e ter fechado as fronteiras em março de 2020 contribuiu muito para ter tido menos de 30.000 casos e menos de 1.000 mortes em um ano. Inclusive, por aqui não há mortes por COVID desde outubro. No estado onde moro – Austrália Meridional – foram somente 4 mortes no total. Os baixos números não são por falta de testes: foram quase 14 milhões de testes em um país com 25 milhões de habitantes.
Quando os primeiros casos comecaram a surgir em fevereiro de 2020, a Austrália foi rápida em implementar medidas de distanciamento físico, trabalho remoto, auxílio emergencial, fechamento das fronteiras e, quando necessário, lockdowns. Tudo já estava bem controlado em abril. A segunda onda atingiu Melbourne com força em julho, e foi aí que uma parte da população sentiu a pressão da pandemia, com lockdown e obrigatoriedade de uso de máscaras. Os outros estados fecharam as fronteiras com Melbourne e, desde então, apenas poucos casos surgiram quando alguns funcionários dos hotéis de quarentena são contaminados. A quarentena obrigatória foi estabelecida para receber os cidadãos e residentes permanentes que, em números reduzidos e depois de muitos voos cancelados, retornam à Austrália.
Aqui costuma vir o maior espanto: quando alguém testa positivo, todos os possíveis contatos são avisados para fazer testes e se isolar. Um sistema de check in com QR code é utilizado em todos os estabelecimentos para facilitar o rastreamento dos contatos que estiveram naquele local caso alguma pessoa infectada tenha frequentado inadvertidamente. É feito o sequenciamento genético do vírus para identificar sua origem (geralmente um dos hotéis de quarentena). O esgoto também é constantemente monitorado e alertas são emitidos caso seja identificado o vírus em algum bairro. Na cidade de Perth, um único caso positivo resultou em lockdown por cinco dias.
E já está todo mundo vacinado na Austrália? Não, a vacina nem começou. Mas para tudo há um plano, e todos estarão vacinados até outubro (provavelmente antes disso). A Austrália vai importar e produzir localmente tanta vacina, mas tanta vacina, que se cada pessoa na Austrália tomar duas doses ainda vão sobrar milhões de doses para os países vizinhos.
As fronteiras com a Nova Zelândia, país com tanto ou mais sucesso em administrar a pandemia, foram abertas (e temporariamente suspensas). Fiji só teve 56 casos de COVID e depende muito do turismo da Austrália, mas viajar para qualquer lugar fora daqui ainda não é recomendado. Enquanto isso, o governo tenta estimular o turismo doméstico – e com tanta coisa linda para conhecer por aqui, não é nada mal.
Enquanto o resto do mundo já se habituou a todas as restrições e a usar máscaras diariamente, por aqui a vida segue quase normal, mesmo sem vacina.
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Apresentação de rua em um domingo normal em Adelaide (fev/2021) |
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