Bagunça Tóxica
Ao serem divulgados os resultados
das primeiras provas do Enem, um grande grupo educacional encomendou uma
pesquisa com os alunos das dez melhores escolas do Brasil. Pois não é que eram todas
bem parecidas? Chamava a atenção o fato de serem serem muito rígidas na disciplina. Ou seja,
nada de bagunça. E entre as instituições públicas, com sua disciplina severa,
os colégios militares têm ótimo desempenho.
Viajando por outras terras,
consideremos a França, a Alemanha e a Inglaterra. De lá vieram e ainda vêm as
mais abundantes colheitas de artistas, filósofos, cientistas, empresários e
estadistas. Historicamente, suas escolas
sempre foram extraordinariamente rígidas, chegando até a umas varadinhas aqui e
umas reguadas acolá.
Em maio de 1968, os universitários parisienses se rebelaram contra o atraso da universidade, promovendo um evento que teve espantosa visibilidade mundial. Barricadas na rua, paralelepípedos voando pelos ares, choques retumbantes com a polícia! Ecoava o slogan mais poderoso: "É proibido proibir".
Em maio de 1968, os universitários parisienses se rebelaram contra o atraso da universidade, promovendo um evento que teve espantosa visibilidade mundial. Barricadas na rua, paralelepípedos voando pelos ares, choques retumbantes com a polícia! Ecoava o slogan mais poderoso: "É proibido proibir".
As consequências
do Maio de 68 varreram o mundo e remoldaram a alma da escola. Muitos
manifestantes viraram professores, sentindo-se pouco confortáveis com sua autoridade.
A epidemia do "proibido
proibir" contaminou a América Latina. Em um dos seus primeiros discursos, depois de
presidente, Sarkozy chama atenção para a
lastimável erosão da autoridade do
professor, com suas raízes em 68.
O filósofo Luc Ferry, em entrevistas, também relembra que houve uma queda vertiginosa na disciplina escolar, resultante de professores inapetentes por manter a ordem na sala de aula. Antes de tudo, porque desgastaram-se as regras de disciplina, claras e compartilhadas.
Não é preciso muito esforço para verificar a onipresença de problemas de indisciplina nas nossas escolas. Nem falamos de alunos agredindo professores; há uma incapacidade generalizada para impedir a bagunça nas aulas, sobretudo nas escolas públicas, devido à perda da autonomia do professor.
O filósofo Luc Ferry, em entrevistas, também relembra que houve uma queda vertiginosa na disciplina escolar, resultante de professores inapetentes por manter a ordem na sala de aula. Antes de tudo, porque desgastaram-se as regras de disciplina, claras e compartilhadas.
Não é preciso muito esforço para verificar a onipresença de problemas de indisciplina nas nossas escolas. Nem falamos de alunos agredindo professores; há uma incapacidade generalizada para impedir a bagunça nas aulas, sobretudo nas escolas públicas, devido à perda da autonomia do professor.
Mas que consequências teria essa incapacidade
da escola para manter a ordem? O
professor James Ito-Adler fez uma pesquisa etnográfica — entrevistando uma
amostra de alunos. Nela surge uma descoberta surpreendente. Quando perguntou
aos alunos o que mais atrapalhava o seu aprendizado, a resposta foi enfática: a
bagunça dos outros! São os próprios
estudantes que têm necessidade de uma
disciplina careta. Não é lamento de
professor saudosista. Ou seja, os próprios alunos admitem que conversas e
turbulência na sala de aula atrapalham os estudos. Resultados espúrios? Não parece, pois pesquisas nos Estados Unidos
e na França sugerem que lá ocorre o mesmo. A bagunça é tóxica.
A ideia de que a escola não pode
tolher a liberdade dos alunos é falsa. Embora possamos conduzir a discussão de forma
mais sofisticada, vale a pena repetir o princípio de que a minha liberdade
acaba onde começa a liberdade de outrem. No caso, a liberdade dos colegas para
estudar e aprender.
(Cláudio de Moura Castro, Bagunça Tóxica. Texto adaptado.)
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